A série de terror gótico mais subestimada da TV

Em meados de 2014, o cenário televisivo foi agraciado com a estreia de uma das séries de horror mais sofisticadas e aclamadas dos últimos tempos: Penny Dreadful.

A mente por trás dessa joia do terror gótico é John Logan, o mesmo roteirista responsável por clássicos do cinema como Gladiador, O Aviador, O Último Samurai e o sucesso de James Bond 007: Operação Skyfall. Com Penny Dreadful, Logan entregou um de seus trabalhos mais ambiciosos e bem-sucedidos, fundindo a atmosfera sombria da Londres Vitoriana com os personagens mais icônicos da literatura de horror.

O elenco de Penny Dreadful foi um dos pilares da série, entregando performances complexas e cativantes que deram vida aos sombrios habitantes da Londres Vitoriana. Liderado por Eva Green, que interpretou a atormentada e enigmática Vanessa Ives em uma atuação que se tornou icônica no gênero, a produção reuniu talentos como Timothy Dalton (o determinado Sir Malcolm Murray) e Josh Hartnett (o pistoleiro Ethan Chandler). Completando o time principal, estavam Rory Kinnear (A Criatura, em uma interpretação sensível e brutal), Reeve Carney (o imortal Dorian Gray), Billie Piper (a trágica Brona Croft/Lily Frankenstein), Danny Sapani (o leal Sembene) e Helen McCrory (a poderosa bruxa Evelyn Poole), todos contribuindo para a riqueza dramática da série. Com atuações intensas e uma química notável, o elenco elevou a série a um patamar de excelência, tornando-a uma obra televisiva obrigatória para qualquer fã de horror gótico.

A riqueza literária de Penny Dreadful era notável, com a série frequentemente pontuada por referências poéticas e monólogos grandiosos. O personagem John Clare (a Criatura de Frankenstein), um amante melancólico da arte e da palavra, frequentemente declamava versos de poetas românticos como William Wordsworth e, notavelmente, William Blake (citando o famoso trecho de “Auguries of Innocence”). Contudo, a citação mais pungente e que define a jornada existencial de seu personagem é o poema “I Am!” de John Clare, declamado em uma cena emocionante ao lado de Vanessa Ives (Eva Green). Nesses versos, Clare expressa a dor da solidão e do esquecimento: “Eu sou! Mas o que eu sou, a quem importa, ou quem sabe?/ Meus amigos me abandonam como memória perdida…”. Além dessas citações diretas, a série se destacou pelos seus monólogos intensos, em especial os proferidos por Vanessa Ives durante seus momentos de possessão e crise de fé, e o discurso de Lily Frankenstein sobre a filosofia de sua monstruosidade, cimentando o tom gótico e a profundidade psicológica que permeavam a aclamada obra de John Logan.

Mas a excelência de Penny Dreadful não se limitava ao drama gótico e aos diálogos eruditos; a série também entregava cenas de ação e horror visceralmente imersivas. Longe de depender apenas de jump scares, a produção investia em um horror atmosférico e bem-feito, onde a violência e o sobrenatural eram retratados com uma estética perturbadora. Quer fosse o embate frenético e brutal de Ethan Chandler com sua natureza lupina, as sequências de possessão demoníaca de Vanessa Ives (verdadeiros balés de atuação e maquiagem), ou os confrontos sombrios nos becos da Londres Vitoriana, cada momento de tensão era meticulosamente coreografado e filmado. A direção de arte e a fotografia escura, mas detalhada, garantiam que o espectador fosse transportado para dentro do cenário, sentindo a claustrofobia dos laboratórios de Frankenstein e o pavor dos encontros com criaturas da noite, tornando o horror tátil e inesquecível.

Infelizmente, o cancelamento precoce da série após a terceira temporada nos tirou o sopro de vida e o pulsar delirante do maior evento de horror gótico que a TV já viu. A abrupta interrupção do ciclo de Penny Dreadful pegou muitos fãs de surpresa e gerou controvérsia, com alguns especulando que a série, por ser tão densa, literária e psicologicamente complexa, não conseguiu manter uma base de público ampla o suficiente para justificar sua continuidade, apesar da aclamação da crítica. No entanto, mesmo com o fim antecipado, a obra de John Logan foi e ainda é um marco incontestável na TV moderna, definindo um “antes e depois” para o gênero de horror de época e fantasia sombria, e estabelecendo um legado de qualidade inatingível.

E, para aqueles que buscam a essência deste terror sofisticado e inigualável, Penny Dreadful permanece eternizada no streaming (Paramount+). A sua reclusão no catálogo digital garante que as jornadas de Vanessa Ives, Sir Malcolm Murray e a Criatura de Frankenstein possam ser revisitadas ou descobertas por novas gerações, reafirmando o status da série como um conto gótico atemporal. É um convite aberto para mergulhar na beleza da escuridão e comprovar por que esta obra-prima de John Logan deixou uma marca indelével na tapeçaria da televisão de qualidade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Back To Top