Com algumas decisões desastrosas durante esta segunda temporada, a série se mostrou mais irregular do que na primeira. Com alguns acontecimentos do jogo acelerados — ou até mesmo ignorados —, acabou dando ao espectador a impressão de que estávamos assistindo a uma adaptação rasa e sem interesse no ponto de vista da Abby (Kaitlyn Dever).
Sim, alguns momentos beiram o ridículo, chegando a parecer uma série teen, muito diferente do que foi o enredo do segundo jogo, que é denso, agonizante e satisfatório. Porém, devo fazer jus aos momentos praticamente idênticos que me fizeram ter praticamente a mesma sensação que tive quando joguei. E nem vou comentar a falta de estaladores em partes cruciais da série. Como se tivessem eliminado, de propósito, os infectados para facilitar no roteiro. O que é uma pena.
Devo destacar também os episódios de que mais gostei — os episódios que foram realmente bons — nesta temporada:
Episódio 2 – Through the Valley: o segundo episódio entregou mais do que poderíamos imaginar. Além da chocante morte do personagem Joel (Pedro Pascal), os produtores mostraram a luta pela sobrevivência da comunidade, liderada por Maria Miller (Rutina Wesley) e seu esposo Tommy (Gabriel Luna), irmão de Joel, contra uma horda gigantesca de infectados.
Essa adição à história adaptada para a TV foi tão bem-vinda que quase ofuscou o grande momento: a vingança da Abby contra Joel. Mas, como nem tudo são vaga-lumes, o roteiro quase colocou toda a temporada a perder ao revelar cedo demais as motivações da Abby por trás da barbárie que ela e seu grupo cometeram contra Joel.
Episódio 6 – The Price: este episódio foi carregado de emoção, com cenas idênticas às do jogo e com Bella Ramsey oscilando entre uma atuação digna de Oscar ou de Framboesa de Ouro. Além disso, o roteiro tornou sua versão da Ellie insuportável. Pedro Pascal também teve seus momentos questionáveis, mas, em sua maioria, foi atrapalhado por um roteiro que insistia em torná-lo fraco e sem motivação.
Só não posso criticar sua entrega dramática em cena, pois foi no tempo certo, nos dando a oportunidade de reviver esse momento terno entre Ellie e Joel durante os flashbacks — assim como em The Last of Us Parte II —, e a sequência de partir o coração em que Ellie confronta Joel sobre a verdade do que realmente aconteceu quando ele a salvou dos Vaga-lumes.
Episódio 7 – Convergente: o último episódio teve um ritmo que oscilava entre acelerado e dinâmico, seguindo as decisões infantis e precipitadas da Ellie, pelo menos até ela revelar um acontecimento chocante de seu passado: a aniquilação de sua comunidade, enquanto ela era obrigada a assistir.
Também tivemos a jornada fúnebre de Jesse. Para qualquer fã médio de séries, é fácil perceber que o personagem vai morrer quando começa a demonstrar muito valor por sua vida. E, claro, quem jogou já sabia o que esperar.
Agora, algo que eu aguardava era a aparição de Tommy em Seattle — parte importantíssima no jogo —, onde ele caça os assassinos de seu irmão, não demonstrando misericórdia por ninguém que entrava em seu caminho. Entretanto, na série, a jornada de Tommy foi adaptada para atender às necessidades de sua comunidade. E o único motivo que o fez ir até Seattle foi para encontrar Ellie e Dina e levá-las em segurança de volta à comunidade.
E, para encerrar com saldo positivo, o episódio nos dá mais algumas cenas chocantes direto do jogo e vislumbres do que esperar para a terceira temporada: a história contada do ponto de vista da personagem Abby.
No fim, essa segunda temporada de The Last Of Us, se mostra competente quando traz o jogo para à TV, mas erra quando tenta criar algo novo. Tirando claro a cena da invasão dos estaladores à comunidade. Torcemos para que a próxima temporada se inspire profundamente no roteiro do jogo e que traga personagens e eventos cruciais para o entendimento da perspectiva da Abby.